O Instituto Oceanográfico da USP (IO/USP) revelou uma realidade alarmante: mais de 95% do lixo encontrado nas praias brasileiras é plástico. Globalmente, estima-se que 8,8 milhões de toneladas de plástico sejam despejadas nos oceanos todos os anos. Na Bahia, um estudo realizado pela Veracel, uma indústria de celulose da região, trouxe dados ainda mais chocantes: em apenas cinco semanas de 2024, foram coletados 140 kg de plástico nas praias do sul do estado, com resíduos de mais de 20 países. Grande parte desse lixo é composta por garrafas plásticas oriundas da Ásia, evidenciando a magnitude do problema das correntes marítimas e do descarte inadequado.
Esse cenário é extremamente preocupante. O plástico, um material que leva séculos para se decompor, ameaça a vida marinha, contamina os ecossistemas costeiros e acaba voltando para nós na forma de microplásticos na água e nos alimentos. Segundo a ONG Center for Climate Integrity, apenas 9% do plástico produzido no mundo é reciclado. No Brasil, a situação é ainda pior, com apenas 1,3% de reciclagem, mostrando a urgência de repensar o uso e o descarte desse material.
“Entender de onde está vindo o lixo mostra que não existe o conceito de jogar algo fora, pois o fora será sempre algum lugar”, alerta Carolina Weber Kffuri, bióloga e especialista em Responsabilidade Social da Veracel. A falta de ações efetivas de logística reversa e conscientização da população agrava a crise, que já é uma das maiores ameaças ambientais do nosso tempo.
Consequências da inação e o papel de cada um de nós
Se não agirmos agora, as consequências serão devastadoras. O acúmulo de plástico nos oceanos pode levar à extinção de espécies marinhas, à destruição de habitats costeiros e à contaminação dos recursos pesqueiros, que são fundamentais para a alimentação e a economia de muitas comunidades. Além disso, a presença crescente de microplásticos na cadeia alimentar humana está associada a diversos problemas de saúde, ainda não totalmente compreendidos, mas potencialmente graves.
Cada pessoa, por menor que seja sua contribuição, tem um papel essencial na reversão desse quadro. Reduzir o uso de plásticos descartáveis, participar de programas de reciclagem e engajar-se em ações de limpeza são formas diretas de ajudar. Ações voluntárias, como as promovidas pelo Grupo de Amigos da Praia (GAP), de Ilhéus, que organiza limpezas periódicas e promove a conscientização ambiental, são exemplos inspiradores de como a comunidade pode fazer a diferença.
No próximo dia 21, o GAP realizará a maior limpeza de praia já vista na cidade, em uma iniciativa que faz parte do movimento do Dia Mundial da Limpeza, celebrado em 18 de setembro. Em 2023, as ações no Brasil mobilizaram 600 mil voluntários, que coletaram 1.220 toneladas de resíduos em 27 estados, somando 1.800.000 horas de trabalho voluntário. Além disso, foram plantadas 2.034 árvores e o impacto econômico foi estimado em R$ 10.800.000, com 47 milhões de pessoas alcançadas através dos canais de comunicação.
A hora de agir é agora
A crise do lixo plástico nas praias é um problema global com consequências locais, que afetam diretamente a qualidade de vida e o meio ambiente. É crucial que governos, indústrias, ONGs e cada um de nós atuemos juntos para reduzir a produção de plástico, melhorar as práticas de descarte e reciclagem, e promover ações educativas que transformem a relação da sociedade com o meio ambiente. Cada pequena ação conta — e a hora de agir é agora.
Fonte: IBahia