Um estudo recente do Observatório da Violência Política e Eleitoral da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) trouxe à tona dados alarmantes: entre janeiro e o início de outubro de 2024, foram registrados 311 casos de violência contra lideranças políticas ou seus familiares que disputam cargos nas eleições municipais. Esse número é quase o dobro do registrado no mesmo período de 2022, quando ocorreram 174 casos.
Embora a comparação direta com anos anteriores seja difícil, devido às diferenças entre eleições nacionais e municipais, além do impacto da pandemia em 2020, o aumento da violência é inegável. Segundo especialistas, a proximidade física entre candidatos e eleitores em pleitos municipais pode ser um dos fatores que amplificam os riscos.
“Estamos assustados com esses números,” destacou um dos pesquisadores do observatório. Ele explica que, à medida que a data das eleições se aproxima, os casos tendem a aumentar. Só em 2024, 83 incidentes afetaram pré-candidatos ou seus familiares, enquanto 228 atingiram candidatos em plena campanha.
Violência política atinge a Bahia com força
No estado da Bahia, ocorreram 39 casos de violência política, sendo o pior do Nordeste. Destes, 28 foram episódios de violência física, seis ameaças registradas e mais cinco casos de desqualificação humana, como objetificação da mulher e roubo de propriedade. A maior parte dos casos ocorreu no interior baiano, envolvendo agressão física, ameaças e desqualificação humana. Em Rafael Jambeiro, por exemplo, o genro da prefeita foi agredido dentro da câmara de vereadores. Já em Aporá, no Agreste baiano, a prefeita teve seu carro alvejado a tiros.
Na noite da última quarta-feira (2), o vice-prefeito de Valente teve seu carro incendiado, enquanto, no mesmo dia, o candidato a prefeito de Prado, no Sul da Bahia, foi ameaçado por homens encapuzados.
Cidades como Camaçari, Lauro de Freitas, Rafael Jambeiro e Salvador também registraram repetidos episódios de violência entre janeiro e setembro, a maioria relacionada a ameaças físicas e psicológicas. O estudo também revelou que a Bahia e Pernambuco lideram o número de homicídios relacionados a desavenças políticas, muitas vezes envolvendo disputas entre famílias.
Violência física é predominante
Dos 311 casos registrados em todo o Brasil, 167 foram de violência física, representando 53,7% dos episódios. As agressões foram predominantes, e houve também 53 tentativas de homicídio e 35 assassinatos consumados. Outros 84 casos (27%) envolvem violência psicológica, como ameaças e intimidações. Além disso, foram registrados 32 casos de violência econômica, 26 de violência semiótica e, preocupantemente, dois casos de violência sexual.
O que está por trás desse aumento?
O estudo aponta para a crescente polarização política e o discurso de ódio como combustíveis para essa escalada. Redes sociais, frequentemente usadas para desinformação e incitação ao ódio, também agravam o cenário, criando um ambiente de tensão constante.
À medida que as eleições se aproximam, a rivalidade entre candidatos e seus apoiadores pode se intensificar, resultando em atos de violência inaceitáveis. É crucial lembrar que, após o pleito, todos seguirão seus caminhos, cada um em busca de seus interesses e ideais. A participação política é um direito de todos, mas isso não deve ser um pretexto para agredir ou ameaçar a integridade de ninguém. A democracia deve ser defendida com respeito e diálogo, não com violência.